Ao contrário de outras capitais, como São Paulo e Teresina – onde o prefeito deu cabeçada no nariz de adversário -, o debate dos candidatos a prefeito de Curitiba foi como reunião de congregados marianos, todos sob a égide da paz, da boa educação, do retraimento e da lhaneza de trato, para usar a imagem perfeita do sábio de Ponta Grossa para definir o povo de Coré Etuba. O debate deu-se no ambiente pintado pela anedota do curitiboca que flagra a mulher a transar com outro cara e nada faz por que, curitibano de truz, não fala com estranhos. A analogia é de mau gosto, reconheço, e antecipo desculpas a conjes e conjas. Porque, conhecidos uns dos outros, os candidatos não brigariam jamais, pois antes e depois do segundo turno serão irmãos de sangue.
Os políticos adoram Baal
Lula quer devolver o relógio que, para o TCU, é patrimônio público, pois foi presente recebido quando na presidência. Esperto, cria fato político diante do outro fato criado pelo TCU: se Bolsonaro também recebeu relógio de presente e há movimento para que seja devolvido, então aquele que Lula sobraça no punho também deve ser devolvido. Como, na lição do Barão de Itararé, ou se restaura a moralidade ou nos locupletamos todos, o TCU tende a locupletar Bolsonado, legitimando-lhe a apropriação e venda do relógio ganho dos sauditas. Há atenuantes, que seriam considerados se o TCU fosse um tribunal, não essa ficção engendrada por Ruy Barbosa, que tem nome, veste-se como, ganha tanto, funciona como e brinca de areópago (ainda Rui Barbosa).
Em suma, um tribunal de contos, não de contas. Pobreza, pequenês de espírito. Presidentes que adoram badulaques de ouro, como Baal, o bezerro que Moisés destruiu ao descer do Monte Sinai, queimando a imagem blásfema, mandando a tribo de Levi matar os adoradores. Jeová, de quebra, obrigou os israelitas a 40 anos no deserto, comendo pão ázimo e a beber água de chuva para purgar o primeiro mandamento contra Jeová nas tábuas da lei que Moisés trazia frescas do Monte Sinai. Pobreza do Brasil e dos brasileiros, para quem o grande problema nacional é o político guloso, o da boquinha, que baba com ouro. A presidência não é glória suficiente para quem chega a ela para arrancar e esconder o ouro. Como os santos do pau oco do ouro contrabandeados das Minas Gerais.
Dois mitos
Dia 13 próximo será inaugurado em Gravataí (RS) o Santuário de Lúcifer, anjo de luz, o nome de origem na hagiologia, antes de ser expulso do Céu como traidor. Os atuais devotos rejeitam a ideia tradicional, insistem que sua divindade é do bem, tanto que no santuário ela será adorada em imagem física, a estatua de cinco metros de altura. Com tal currículo e origem gaúcha, Jair Bolsonaro ganhará adeptos se comparecer à entronização de Lúcifer. Afinal, entre nós ele provoca tanta controvérsia quanto o Mito, ora um deus, ora a viva encarnação do demônio.
Aos perdedores, as batatas
Lula escorregou na casca de banana da demagogia: baixou medida provisória isentando do imposto de renda os prêmios dos atletas olímpicos. O pressuposto é a glória esportiva, tão pífia nas derrotas humilhantes quanto importante nas raras vitórias. Lula, que fala na hora errada o disparate absurdo, quer surfar na onda dos medalhistas. Primeiro ele, que nada tem a demonstrar em seu governo, esgotado depois do grande feito como vencedor de Bolsonaro. Depois disso, não sobrou nada, tanto na aprovação quanto na rejeição ele empata com Bolsonaro. O blog escusa-se de comentar presentes não declarados porque nesse artigo não há inocentes no Brasil.
Se Lula continuar isentando do imposto brasileiros que começaram a trazer glórias, o déficit público subirá à estratosfera. A Lula, cada dia mais populista, só interessa o fuzuê do carnaval com que receberá os atletas (os perdedores maldosamente esquecidos) que, em colateral, darão corda ao protagonismo da ressignificação de Janja – a primeira dama que compareceu por três dias à Olímpiada levando séquito de documentaristas para fotografá-la no esplendor de seus vestidos espalhafatosos. Tudo bem. Para Lula, o dinheiro público nasce no Banco Central, cujos diretores teimam em cumprir a lei com medidas para preservar-lhe o valor.
Brincando de STF
Depois de muito barulho, o TCU começa a rever a questão dos presentes recebidos pelos presidentes. Vale dizer, Bolsonaro ainda fica com os presentes sauditas. Para não dar na vista, o TCU fingiu que ia tomar de volta o relógio que Lula ganhou quando presidente (ele já criticou o tribunal, pois viu no ato jogada dos ministros bolsonaristas para limpar a barra de Bolsonaro). É o TCU brincando de STF, aquilo de fazer espuma ameaçando maremoto e depois deixar por isso mesmo, nem a marolinha celebrizada por Lula. Como o que aconteceu com os casos da Lava Jato, em que todos saíram ganhando, tanto os bandidos quanto os mocinhos.
Swatch paraguaio
Depois do golpe do Rolex saudita, a mira assesta em Lula sobre caso antigo, o relógio Cartier que recebeu de presente quando ainda presidente. Não há o que comparar entre o relógio que Bolsonaro vendeu por uma fortuna – e recomprou, prova de culpa – em Miami e o de Lula, signo de sucesso de classe média remediada e arrivista. Mas lege habemus, há um limite de valor para definir se o presente recebido pelo ocupante de cargo público vai para seu patrimônio privado ou para o patrimônio público. Ainda que a ação oficial seja oportunista, porque atrasada, ela é saudável, pois mira a doce e suspeita aceitação de presentes que, pelo valor, dizem mais sobre o interesse de quem dá que mérito de quem recebe.
O que falta é a ação presente e incontinenti dos tribunais de contas e ministérios públicos. O hoje deputado Beto Richa, ao ser levado ao purgatório quando governador, teve apreendida pelo Gaeco sua coleção de cebolões yuppies. Embora coincidente com a investigação do relógio de Lula, a desistência de Beto à candidatura de prefeito, nada tem a ver com seus relógios, restituídos e legitimados pela Justiça. O ex-governador desistiu devido à desafeição de quem oferece bens materiais ao homem público: o curitibano, esse ingrato, rejeitou o ex-prefeito e governador nas pesquisas para a eleição municipal. Mas ao que consta, Beto continua ostentando seus cebolões, não aprendeu com o quase aliado Bolsonaro a usar o confiável Swatch paraguaio.
Ela mora com ele
O Estadão critica Rosângela Moro de oportunista por deixar seu mandato de deputada por São Paulo para disputar a vice de prefeito de Curitiba. Claro que é oportunismo, mas não é o primeiro político e pescar com a vara do cônjuge. No Nordeste tem coisa pior: as mães suplentes dos filhos, que, ao assumirem outros cargos, deixam-nas no exercício dos mandatos dos quais eles continuam titulares. O sujeito dobra a cotação do capital político, primeiro pela eleição, depois pelo cargo não eletivo.
Duas deformações brasileiras, em que o nepotismo alia-se ao fisiologismo, que ao fim e ao cabo faz do eleito representante de si mesmo e com sócio nos rendimentos de seu capital político. Rosângela vice prefeita, o marido senador achando-se sócio da prefeitura, só falta Ney Leprevost ser um banana para deixar o casal mandar na Saúde, como apregoado como preço de seu acordo com o maridão Sérgio Moro para captar, por via indireta, da mulher, os votos do senador.
Clássica e sagrada
Anitta regravou o Mania de Você. Rita Lee não merecia; compositora e primeira intérprete, sua gravação é antológica, clássica – e sagrada.
Chupa, Guedes
Rebeca Andrade volta com o ouro de Paris. A filha da diarista agora pode ir à Disney. Antes, ia aos treinos levada pela mãe, quando esta podia, ou com frequência depois que o irmão a levava de bicicleta.
Emoção passageira
Mensagem do banco: por dez dias posso gastar além do limite de crédito sem pagar juros. Emoção, fiquei a ponto de debulhar em lágrimas. Emoção passageira ao descobrir a bicicleta custa duas vezes acima do limite.
Tudo na mesma
No Chile, Lula pede respeito à soberania da Venezuela. Pragmatismo de um lado, aquele de exigir democracia em casa e aceitar ditadura no vizinho, de outro, o temor da Quarta Frota dos EUA, vigia da América Latina.
Lé com cré
Lula e o PT esbaldam-se na defesa de Maduro porque ainda não perceberam que o venezuelano é um Bolsonaro com bigode, tão mentiroso quanto. Não demora, nosso Mito manda um dos filhos à Venezuela para apoiar o eleito com fraude.
Delícias do Paraíso
Deus descansou no sétimo dia, muito cansado porque no sexto fez hora extra ao criar Beth Scarante, a fada curitibana que com seu bobó de camarão, a pescada com amêndoas e a cornucópia de doces antecipa as delícias do Paraíso.
Sem BM ninguém Vê
Uma coisa é certa depois que Lula venceu a eleição: os brasileiros acordam sem medo de que o país tenha virado ditadura, tanto de direita quanto de esquerda. Todos, mesmo os da camiseta da Seleção, como a madame que deixou a BM em casa e foi de über até o quartel do Boqueirão, onde, disfarçada de pobre e com a máscara do covid, bradava como louca “devolvam minha democracia” para uma sentinela tão muda e indiferente quanto os guardas de Buckingham.
Útil e agradável
Com todo esse bronze ganho na Olimpíada, o Brasil pode restaurar os bustos e placas de praças e cemitérios furtados e vendidos aos desmanches. Daí ganharíamos medalha de ouro pela conservação.