Disrupção, de volta ao atraso

Pois é, os médicos cubanos não serviram. Eram escravos, jogada do PT para financiar Cuba. Podiam ser tudo isso. Mas vieram a lugares remotos, sem estrutura, de difícil acesso e de vida difícil, que os médicos brasileiros recusavam – e há indicações de que continuam recusando.

Em suma, os médicos cubanos funcionavam, não eram comodistas e ambiciosos como os brasileiros diante da perspectiva de exercer a profissão sob precariedade. A incontinência verbal do presidente eleito deixou sem médicos populações que nunca tiveram tratamento de saúde.

É a disrupção, como diz o novo ministro da privatização no bolodório empolado sobre a inovação que quebra as rotinas. A saída dos cubanos foi disruptiva ao quebrar a rotina do atendimento a populações carentes e remotas. Disrupção, o avanço bolsonárico, o desmanche sem alternativa.

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Pau-de-enchente

“É só deixar o fuzil em casa.”

Wilson Witzel, governador eleito do Rio no pacote Bolsonaro, responde à afirmação de que em seu governo usará atiradores de elite contra os bandidos que portarem fuzis. Atiradores de elite, fuzil em casa podem ser marcas da retórica pau-de-enchente, sem reflexão e sem medir consequências, de um Bolsonaro, pai e filhos – até agora com a honrosa exceção de Flávio, o senador. Não de alguém que fez sua formação e carreira na magistratura. O juiz Witzel deve ter tido a maioria das sentenças reformadas nos tribunais.

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Mourisco e secreto

Por enquanto é pedido, depois será ordem, finalmente será pau: o ministro Sérgio Moro não gostou de ser fotografado em almoço de trabalho. O policial federal que o acompanhava pediu que o repórter não registrasse o ágape mourisco. Não deve ser falta de modos, como o prefeito de Curitiba que fala de boca cheia e mastiga de boca aberta ou o governador que palitava os dentes em público.

No caso de Moro deve ser privacidade à Lula, de quem os brasileiros foram sempre privados de saber quanto Marisa Letícia nos custava em plásticas e Lula em bebida, o consumo suntuário do casal. A desculpa peto-safada, da segurança nacional: alguém podia batizar a bebida ou provocar curto-circuito no secador. Com Moro, os corruptos podem corromper-lhe o feijão-com-arroz.

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Pensamento luso-brasileiro

O futuro ministro da Educação é mestre em pensamento brasileiro, doutor em pensamento luso-brasileiro e professor emérito da escola de comando e estado maior do Exército. Só com muita má vontade vai-se negar que o ministro é um pensador.

Ficam pequenas, insignificantes, dúvidas quanto ao ministro: sobre o que ele pensa, onde ele pensa e pra quem ele pensa. Uma coisa é certa, o presidente pensa tão bem quanto seu ministro, que ostenta no currículo essa maravilhosa novidade, o pensamento luso-brasileiro.

Esse tal pensamento causa perplexidade. Portugal e Brasil não produziram nada equivalente a um Kant, Schelling, Locke ou Voltaire. O pensamento luso-brasileiro é indigente ou inexistente. Seria como a música militar, que está para a música como o pensamento luso-brasileiro para o pensamento?

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A juventude bolsonárica

O projeto da escola sem partido é inovador e revolucionário. Inovador quando abre aos alunos do ensino fundamental a prática do patrulhamento e da delação: poderão fiscalizar os professores e delatá-los aos pais, à administração escolar e – por que não? – ao líder político ou ao pastor de sua crença. A inovação consiste em instituir as duas práticas ao ensino fundamental, porque elas existem desde sempre no ensino superior, aqui circunscritas às relações internas discente-docente, sem vazamentos exteriores.

Algumas diferenças: agora serão os alunos da dita direita patrulhando os professores da dita esquerda. No ensino superior é o contrário, alunos da dita esquerda versus professores da dita direita – a ‘dita’ aqui é fundamental, para desvendar a fragilidade dos rótulos, e antecipar as sílabas da palavra representada pela atitude. A escola sem partido não vai se ocupar do patrulhamento e da delação no ensino superior. Aqui continua igual, ou seja, duas realidades distintas no ensino fundamental e no superior, a direita de baixo contra a esquerda de cima.

Como resolver a contradição? À brasileira, importando modas que caducaram no Primeiro Mundos: o sistema de cotas de estudantes de direita no ensino superior. A escola sem partido será uma revolução atrasada algumas décadas: o sistema de patrulhamento e delação existiu na Rússia Soviética, nas Alemanhas, nazista e estalinista, nos Estados Unidos macartista e subsiste na Cuba castrista. Digamos, então, que na escola sem partido a ideologia cede ao policialismo de bermudões, skates, fones de ouvido e Instagram.

Da escola sem partido poderão derivar as milícias infanto-juvenis, adaptáveis e adaptadas a qualquer regime, mesmo a um futuro regime de esquerda (que poderá ser a resposta dialética à era Bolsonaro, como esta foi a resposta dialética à era Lula). Finalmente, não será surpresa se os deputados da base aliada incluírem na lei da escola sem partido a obrigatoriedade do uso de camisas pretas, pardas ou beiges pelos alunos do ensino fundamental. Assim foi na Alemanha e na Itália. E no Brasil integralista de Getúlio Vargas.

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Virou moda

O Brasil deve ir devagar na fissura de rompimentos com a China e o Mercosul e no frenesi de imitação ao transferir para Jerusalém a embaixada em Israel. Palavras do vice Hamilton Mourão na entrevista a Mônica Bérgamo, da Folha.

Mais um vice melhor que o titular, tradição que vem desde Itamar Franco, não interrompida com FHC e Lula. Mourão revela o homem ponderado, informado sobre a realidade brasileira e com ideias realistas sobre o que se deve e se pode fazer.

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Educação sem partido

A noiva do ministro Onyx Lorenzoni pediu que os celulares fossem recolhidos em sua festa de casamento. Assim se fez, menos com o celular do convidado de honra, Jair Bolsonaro. Que ali mesmo, pelo celular, anunciou o novo ministro da Educação. O presidente eleito mostra falta de educação ao anunciar o ministro da Educação.

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O salvador da pátria

“Se eu afundar, o Brasil afunda comigo.”

Jair Bolsonaro, na reunião de ontem com os deputados federais de seu partido, o PSL. A gente achava que Lula se considerava nosso Jim Jones: ele apenas salvaria o Brasil. E nos acenava com o caos.

Como a natureza abomina o vazio, o Capitão ocupa o vácuo de Lula. Agora Bolsonaro é o salvador, auto-assumido e egotista como Lula. Igual a Lula, quem não for salvo com ele, afoga-se com ele.

Pena que nesse naufrágio não se afogarão só o novo Jim Jones e os que votaram nele…

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Pára com isso

Brasileiro tem mesmo baixa auto-estima. Veja o caso de Carlos Ghosn, o presidente destituído e preso da Nissan-Renault: nasceu no Brasil de pais libaneses, tem cidadania francesa, foi criado no Exterior, onde fez sua carreira vitoriosa. Bastou o escândalo para a imprensa daqui insistir na prisão do “brasileiro Carlos Ghosn”.

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Mim, comigo, inimigo

A escolha de Mozart Ramos para ministro da Educação foi fake news. Dedução do presidente eleito, que identifica o motivo: “jogar a bancada evangélica contra mim”. Atitude que assusta, porque desvenda o íntimo do homem. Assusta mais ainda porque ele nunca escondeu quem é e o que pensa. O temor está em que passe das palavras à ação.

Primeiro, o “contra mim”, que revela o sentido de antagonismo, de perseguição, típicos de políticos autoritários. É o espírito e a atitude de Donald Trump desde que assumiu nos EUA, no que só é contido pelas sólidas instituições que os americanos têm – e quem faltam a nós. Aliás, basta vasculhar a História para identificar o ‘eles contra nós’ como retórica e instrumento de fascistas de todos os gêneros, inclusos os da esquerda – o discurso do PT nunca foi diferente.

Segundo, o “jogar a bancada evangélica”. Então, na sequência do antagonismo, o presidente demonstra o lado para o qual pretende governar. Para ele a eleição não o fez presidente do Brasil, mas dos 50 milhões de brasileiros que o elegeram no plebiscito antipetista e do moralismo míope e hipócrita. Pode ser motivo de orgulho, de autorrealização – se o colégio eleitoral fosse de 49 milhões. Para os mais de 200 milhões restantes, quem sobreviver saberá.

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Escola com partido

O Capitão começa a cair na realidade da política brasileira, do sistema de partidos que açambarcam e poluem os governos. O primeiro recuo se dá quanto à escola sem partido, quando o ministro da Educação foi desconvidado sob pressão dos partidos da base aliada. Solução à brasileiro: o ministro será oficialmente a favor da escola sem partido – que terá de ser a escola dos partidos evangélicos.

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Ainda?

A última de Bolsonaro: o Brasil “não sabe o que é ditadura aqui, ainda”. O Brasil sabe, aprendeu na escola. Teve a ditadura Vargas e a Militar. Que Bolsonaro não saiba é coisa lá dele, que aprendeu diferente na escola militar e no Instituto Educacional Brasileiro. Não surpreende. Também não surpreende, mas assusta, o ‘ainda’. É aviso do que pode acontecer ou sua assumida dificuldade com o português?

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R$ 5 bi é troco

A governadora Cida Borghetti avisa que deixa R$ 5 bi em caixa para o sucessor, Ratinho Júnior. Não há como duvidar dela, adversária leal que poupou o Estado de gastança na campanha. Todo cuidado é pouco, porque R$ 5 bi vai tudo no primeiro contracheque dos magistrados.

Quem garante que não levaram números errados a Cida, para evitar que perdesse o fôlego? O ex-governador Beto Richa entrou nessa e ficou com pecha de mentiroso porque disse na campanha que o Paraná nadava de braçada num mar de grana. E depois se viu que estávamos na pindaíba.

Além disso, falta mês e meio para a posse e até lá podem aparecer despesas escondidas em algum resto a pagar. Nada contra a governadora, mas o secretariado de transição tem que ficar de olho no conta-corrente, se for o caso vistando as ordens de pagamento.

Ninguém pense que não tem problema, que o pai do futuro governador pode avalizar empréstimos ou liberar dinheiro a perder de vista até que a arrecadação estabilize, como sempre ali por meados de abril. Rico sabe que dinheiro não aceita desaforo.

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Nada a ver

A disputa entre as chapas da OAB/PR saiu do limite do civilizado. No debate de hoje, entre tapas e tabefes,  quebraram o pau sobre a duração dos cursos de Direito: a situação quer mantê-los nos cinco anos de sempre e a oposição, reduzi-los a quatro. Três que é bom para aquela chatice toda, ninguém propõe. Assim ainda levam votos nulos pela cara. Diria o presidente Bolsonaro, o que “isso aí” tem a ver com uma seccional da OAB?

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Nem um pio

Hoje, dia da Consciência Negra, o presidente eleito não disse palavra sobre o assunto. Sequer para louvar Paulo Negão, o sogro, que nem negão é.

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