Alvarrábio

O SENADOR ÁLVARO DIAS ou bebeu ou embarcou na campanha de Henrique Meirelles à presidência da república. Diz ao Antagonista que o presidente precisa entender de economia. Meirelles entende, foi presidente do Banco Central e é ministro da Fazenda. Tem mais, presidiu o Bank of Boston, na matriz gringa.

Para o senador esse é o principal requisito. Que não se adquire à toa, mas com experiência, política e administrativa. Como ele, que desde os 21 anos está na estrada como vereador, deputado estadual e federal, governador uma vez e senador a perder de vista.

Quando Álvaro fala, Roma escuta, nem tanto pelo conteúdo quanto pela forma: aquele vozeirão mexe com todos os gêneros da gramática sexual. O conteúdo, ora, o conteúdo é como Álvaro, e aí os autores divergem, há os que o consideram uma sumidade, outros que dizem que ele some com os conceitos.

Desta vez o senador elaborou o conceito. E conceitos devem ser examinados, manda a epistemologia. Economia, o presidente deve entender de economia. Meirelles entende, José Serra entende na teoria e na prática: foi deputado, secretário da Fazenda, prefeito de S. Paulo, governador e ministro. E senador, como Álvaro. E doutor por Princeton, da Ivy League.

Dilma entendia de economia, formada e pós graduada, embora o doutorado que apresentou como credencial foi mentira deslavada, ela não tinha. Mas foi secretária de Fazenda, ministra de Minas, Energia (daí conhecer o poder da mandioca e do ar encanado), Casa Civil. E deu no que deu. Ou melhor, não deu.

Experiência na política e na administração, nome exponencial, um só: José Sarney. Quem mais a tem no Brasil? Foi tudo, inclusive imortal, na política e na academia. Não obstante, pariu o Plano Cruzado, o Bresser e o congelamento de preços. Quem amargou seus anos de prefeitinho na presidência sentiu as picadas de seus marimbondos de fogo.

A lista vai longe e nela podemos incluir o ministro Moreira Franco, deputado, governador, ministro de algumas pastas – só faltaram a Kolynos e a Samsonite, privativa do deputado Rocha Loures. O senador Romero Jucá, ministro de tudo e líder de todos os presidentes no Senado. Até governador de Roraima, um estado mais de espírito que de terra e gente.

Chega de comparar currículos, o de Álvaro e os de outros. Vamos à experiência. O Antagonista desvenda em Álvaro o milico frustrado: diz que a presidência é o fim da linha, onde se chega como se chega à universidade – tem o maternal, o prèzinho, o fundamental, o médio e o superior. Tipo quem faz a escola militar e sobe a hierarquia para no fim chegar a general.

Os autores voltam a contrariar Álvaro. FHC e Lula eram como Jesus Cristo no ‘Liberdade’ do poeta Fernando Pessoa: não entendiam de finanças. Lula foi inteiramente fiel a Pessoa. Além de não entender de finanças nunca teve biblioteca. Experiência? FHC foi senador por mandato e meio, ministro por ano e meio e presidente por oito. Só entendia de sociologia.

Lula só entendia de política e sindicato, um mandato de deputado. Não quis outro, enojado dos “300 picaretas” da câmara, que depois preferiu alugar. FHC e Lula até que foram presidentes bons para a economia. Lula, até melhor, pois ajudou a economia das empreiteiras e da base aliada, companheirada inclusa. Os exemplos de FHC e Lula importam, desmentem Álvaro.

Nosso senador, que conheci administrativamente em seu mandato de governador, continua com o cacoete de inventar – perdão – de copiar modas. Foi assim em seu governo quando, deslumbrado com Fernando Collor e suas privatizações, inventou de criar o modelo paranaense. Estava lá, meninos, eu vi o modelo de Álvaro, me pediram pitacos jurídicos.

Ele poderia ter privatizado coisas privatizáveis, que evitariam problemas futuros. Copel, Sanepar, Banestado, por exemplo. Não, isso tiraria cacife político, diretorias negociáveis na assembléia e o generoso orçamento paralelo que as estatais representavam antes da Lei da Responsabilidade Fiscal. Álvaro decidiu privatizar o ferry boat de Guaratuba. Ponte que é bom, neca.

O melhor argumento em seu favor, Álvaro não usa. Aliás, usa pela metade. Faz como as vedetes do Carnaval, tem um tapassexo que esconde o principal, a dita experiência. Não de economia, que ele não tem nenhuma, nem administrativa, que foi insignificante. Aprendeu economia como senador? Alguém conhece uma opinião consistente dele, assim tipo José Serra?

A experiência de Álvaro é dos políticos e dos partidos. Cinquenta anos no trecho, corpinho de 25, cútis de 32 não vieram de graça, pela bela voz e pelos lindos cabelos. O cara tem fôlego, nervos de aço. Seu tempo de vida pública quase empata com a quantidade de partidos a que  pertenceu – e só como senador, porque a conta não inclui outros mandatos, quando foi MDB e PSDB.

Isso ele não puxa do currículo, pega mal. Tirando Lula e Michel Temer, os outros candidatos, como Álvaro, fizeram surubas partidários. É o pior tipo de experiência. Experiência de tira, de passar a vida no meio de bandidos. Álvaro, podia dizer que sabe lidar com bandidos, como fazia quando governador sobre os parceiros do outro lado da praça. Não diz, pega mal dois.

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