CRIANÇA PEQUENA em Ponta Grossa, pobre de marré e com medo de assombração, nunca ouvi correntes arrastando no sótão nem acordei molhado com goteiras na crepitante e antiga casa alugada, de madeira. Velho, remediado e tentativamente sossegado no apartamento de último andar, perco o sono com as telhas vibrando, a despencar na rua com o vento e as goteiras que destroem livros, mesas, tapetes e discos no apartamento de último andar – e descem dois andares pelos plafons de luz para molhar e assustar as moradoras vizinhas, que me socorrem na solidariedade da desolação comum. O pior vem depois: pesadelo com seguradora e justiça, reparos ineptos de profissionais que consertam uma coisa e destroem duas. E ainda os consertos, outra tragédia anunciada.