A palavra fazia coceira na língua, nem o carrapicho da mamona conseguia aliviar. Então tinha que falar, usar a palavra de novo: ‘canalha’. O senador não tem o talento nem o suíngue de Bezerra da Silva, mas não consegue segurar aquele ‘canalha’ entre os dentes, mantê-lo no frizer da mente. É mais forte, dispensa forte emoção ou causa eficiente, qualquer causa serve. Desta vez foi uma faixa em Maringá com críticas à sua atuação. Mistura explosiva, nitroglicerina pura, a faixa e a crítica. Lembram dos sojicultores do Oeste, canalhas a quem recomendou que se auto-empalassem com as faixas?
Desta vez a ordem de empalamento foi arquivada, afinal, são tempos de câncer de próstata de Michel Temer e o senador chegou à inevitável senescência que leva à hiperplasia da glândula. Limitou-se ao ‘canalha’, mais canalhas, sempre os que atingem seu ego, centrado no umbigo autoritário. O senador pode ter as razões que seu coração desconhece. Age sob o reflexo condicionado ao automatismo do insulto, na ejaculação precoce do xingamento.
Nós que o acompanhamos desde que ainda garatujava as sílabas da palavra mágica – ‘canalha’ -, ficamos na dúvida, não, naquela certeza: por que o senador chama de canalhas aqueles que fazem contra ele exatamente o que ele faz contra os outros? A Bíblia ensina que não devemos julgar nosso semelhante pelos defeitos que nós temos. Pelo jeito somos todos, os canalhas do senador, bons semelhantes, sejamos cristãos, sejamos judeus, porque nunca chamamos o senador de canalha. Não, não me deturpem, o senador não é um canalha. Só os outros.