Check in no Moro’s Inn

OS PRESOS da Lava Jato borram-se na Masmorra de Curitiba (apud Rafael Greca). Não que Sérgio Cabral mate Eduardo Cunha a estocadas, ou Gim Argello enforque João Vaccari ou que Antonio Palocci tome de mulherzinha o senador Delcídio Amaral – o parceiro de ar andrógino, do nariz, lábios e olhos femininos, do rosto glabro, dos longos cabelos acetinados…

Os presos do Moro’s Inn têm é medo de morrer pelas mãos dos vizinhos – 100 metros de distância – da Favela Penitenciária, gente pobre, bruta e ignara dos grotões, amontoada em celas fedorentas. O pessoal da Favela tem código de ética: semana passada matou dois colegas, sem pestanejar. Estuprador de mulher e criança, ladrão de parceiro não têm vez.

Se os caras da Favela descobrem que sua presença ali se deve em não pequena dose à turma do Moro’s Inn, não será uma revolução francesa, russa ou mesmo a farroupilha. Mas o começo, um bom começo, da revolução que o Brasil espera há muito. Corrupto deve mais temer a morte e não fingir que lamenta a morte das Marielles Francos.

Na avalanche da corrupção brasileira o corrupto é tão ou mais pernicioso que o criminoso comum. Quando instala a indústria de propinas na BFC e o Brasil tem sua carne embargada nos importadores, quando a roubalheira na saúde, na educação, na segurança e demais serviços públicos levaram o Rio à escalada do crime. Aí tem a omissão e a comissão do corrupto.

A Petrobras acumula prejuízos, sofre processos de investidores em Nova Iorque por obra e graça do Cristo Redentor? O Banco do Brasil e a Caixa Econômica viraram centrais de achaques por mero e acidental acaso? Os fundos de pensão das estatais chegaram ao fundo do poço por que as pensões se encheram de pulgas? Tudo força maior, act of God?

Os corruptos borram-se, temem que os presos pobres cortem-lhes as jugulares. Por isso conseguem acomodações melhores, dispensa de algemas no camburão, revista sem intimidades nas intimidades das suas mulheres. O complô de proteção instala-se nos tribunais, na OAB, corrupto também é ser humano. Aquilo de ‘hoje sou eu, amanhã pode ser você’.

Não me pejo de pensar assim. A impunidade e a cupidez de nosso homem público atingiu o inimaginável, excedeu o limite, digamos tolerável, da fome, da pobreza e do atraso do povo brasileiro. Perdão, como disse Euclides da Cunha no começo do século XX, o Brasil não tem povo, tem população. Os políticos descobriram isso intuitivamente.

Para os políticos, ouçam-lhes os discursos, desde o cínico e prepotente coronel do Nordeste até o refinado e dialético príncipe dos sociólogos do Sudeste, não existe povo, que é conceito político, representativo da nacionalidade. Para eles, existe população, o conceito demográfico, das cabeças que podem ser contadas no diagrama eleitoral.

Não vejo melhoras no horizonte próximo de minha finitude. Nem no futuro remoto, considerando o recuado horizonte da História. Nem com a Lava Jato, que pode morrer por estes dias para poupar Lula da prisão. Não voto em Bolsonaro ou outro dos figurantes. Se Deus pedir a nacionalidade brasileira, todos um dia farão check in no Moro’s Inn.

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