Coisas da saudade

SEIS ANOS, começando a ler, o moleque vem passar o Natal com os avós. Dezenas de brinquedos à espera, o antídoto para o tempo chuvoso com que São Pedro presenteia Curitiba nessa época. Quando a chuva dava trégua, avô e pai levavam o moleque para passear.

Um erro. O garoto encantou-se com os orelhões da vizinhança. Melhor, com os santinhos dos orelhões, das bundas enganosas,  dos reclames de “iniciante, uni, bi, tri, atende em local próprio, aceita cartão”. Um dia, lendo Hegel na pré-escola se perguntará por que tanta beleza desperdiçada.

Amor com amor se paga, avô e pai em plena luz dos dias úteis saíam em expedições para abastecer o garoto, sorte deles no anonimato das ruas vazias. A coleta não atingira a figurinha premiada e as férias chegaram ao fim. Mãe e pai deram sumiço ao lúdico sortimento de nádegas.

Restam quatro figurinhas, solitárias e avulsas, nem são as melhores, fixadas na porta da geladeira, ali deixadas por Bruno, o huno, lembrança para os avós. A avó teima em mantê-las na geladeira, o avô faz reservas. Coisas da saudade…

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