Ah, a mulher que passa. Linda, no dedo a grossa aliança de espantar pretendentes. No rosto, a maquiagem que cria a instigante atmosfera de palidez. Traje de executiva, blazer sóbrio e calça de tecido molhado, a sóbria e demoradamente escolhida camisa branca. Escarpãs elegantes que incitam ao fetiche com pés femininos.
Sentada à frente, enfrentou o estrogonofe, prato rápido, prete a comer, contra-filé amolecido, a mistura incompatível de arroz e batata palha. Não desgrudava do celular, uma garfada, uma falada, uma clicada. Dispensou o cafezinho, ofensa aos dentes nacarados. Enquanto isso li dois cadernos do jornal e resolvi as palavras cruzadas.
Levantou-se e partiu, como no outro poema de Vinícius. O jornal informava que comer ao celular aumenta em 75% as calorias da comida. Ela pode, os 75% não fazem diferença no 1,70 de beleza longilínea, curvilínea discreta, preito ao calipígio. Ao passar por mim, poderosa, de cima, no limiar do horizonte, lança a esmola de um olhar piedoso.