FEMINISTA de convicção e tucana em transição, a amiga me puxa a orelha: só foto de mulher no blog? De preferência, respondo. Mas só francesas. E atrizes. E bonitas, continua a chiadeira. Como a reclamação também ocorre no foro doméstico, explico. Ainda aprecio as mulheres mais que aos homens, e isso vale para os netos, dois garotos e duas meninas. A mulher é uma luz em nossa vida desde a primeira infância até a última senilidade; elas nos cobrem de amor, carinho e compreensão a todo o tempo. Por que as francesas? Esta é a questão decisiva. As francesas têm tudo a ensinar para todas as mulheres do mundo em termos de simplicidade e despojamento.
Você vê a francesa na rua, no filme, no mercado, é a permanente apoteose da simplicidade: parece que escolheu a primeira roupa que viu no armário; os cabelos sugerem ter sido ajeitados com as mãos; maquiagem, o mínimo indispensável para disfarçar alguma coisica, se tanto; e esse perfume com o qual as brasileiras, particularmente estas, estragam nosso paladar nos restaurantes, as francesas adotam a técnica de espirrar para o alto e cruzar de bicicleta a nuvem que dissipa no ar. Sim, tem mulher brasileira que faz isso, conheço algumas, tão poucas que não entram na estatística. E por que as atrizes francesas?
Duas razões. O cinema francês é simplesmente fascinante na técnica da narrativa e no uso mínimo de recursos audiovisuais: no máximo a iluminação, talvez homenagem inconsciente aos irmãos Lumière, inventores da arte feita de luz e movimento (lumière é luz, em francês). A narrativa do filme francês é como a narrativa nos romances deles: linear, clara, direta. E suave, harmoniosa, sem sobressaltos (esqueçam Luc Besson, de excessivo tributo ao cinema norte-americano). Quanto às atrizes francesas, elas têm o que falta às atrizes brasileiras – no geral, e Débora Falabela, rara exceção, que me perdoe, entre as jovens: primeiro, talento; segundo, decoro.
As atrizes que publico afirmam-se pelo talento, até disfarçam a beleza. Na maioria fizeram teatro e muitas estudaram na Comédie Française, a Sorbonne do teatro francês. A questão do decoro está na vida pessoal. Podem se despir nos filmes, mas na exata medida e estrita exigência da construção do personagem e da finalidade do enredo. Se algumas posam nuas ou desfilam seminuas exibindo as amígdalas a partir do tapa-sexo, a regra não é geral, possível cópia das brasileiras (e aqui não incluo Maria Della Costa, Tônia Carrero, Fernanda Montenegro, Nathália Thimberg, Lilian Lemmertz, Cacilda Becker, clássicas e lindas).
Os franceses são ciosos de sua tradição e zelosos de suas raízes culturais. Se pagam, é pequeno o tributo ao modismo norte-americano, como no Brasil, onde importamos tudo. A rede McDonald’s não tem prestígio na França e a Playboy deles no geral mostra modelos, atrizes, dificilmente. Fotos de homens bonitos neste blog? Primeiro, mereçam. Quem sabe essa última de Neymar só de toalha. Não, esse rapaz sempre tem que competir com a namorada: ela mostra o convexo e ele mostra o complexo. Publicaria a foto do tucano Beto Richa de sunga descendo a rampa do Iguaçu. Será que isso traz sossego à amiga, correligionária dele?