A câmara federal tem 513 deputados, dos quais mais de 80 mudam de partido nisso que se convencionou chamar de “janela de transferência”. Não paga a pena divagar sobre o que representa em termos de institucionalidade e estabilidade política, o que representa como retrato de um país, como reflexo de sua constituição e dos costumes políticos.
Melhor ficar no apelativo: “janela de transferência”. Janela, no léxico brasileiro, tanto é o implemento da casa por onde entram o ar e o sol, como aquele por onde entra e sai o ladrão para cometer o furto. Não fosse ato criminoso e sorrateiro, o ladrão entraria e sairia pela porta. Não há como fugir desse lapsus indelével na opção pela janela na mudança de partidos.
Nada impedia que a mudança de partidos se fizesse pela “porta de transferência”. Optando pela janela não há como fugir da associação entre deputados e ventanistas – ladrões que entram pela janela. Nem tanto pelo que fazem uns e outros nas casas alheias, não raro até se assemelham. Mas pela forma como entram e saem: pelas janelas.