Moro não morou

Caro, me ilumine. O viés da ironia está entre os atributos dos juízes? Tenho quase certeza que não. Viajei muito pelos foros e me convenci do contrário. Dou exemplo, os três juízes fazendo o mesmo comentário sobre as petições dos processos – “hilária”. Fosse hoje escreveriam ‘rs rs rs’.  Um deles invocou a Fata Morgana num de meus processos. Pode? Não peguei o tempo da internet na Justiça, agora o processo é todo virtual. Mudou alguma coisa? Dizem que só o volume de papel.

Os juízes inventaram o processo para a internet, no qual as petições agora se chamam ‘movimentos’; e o anexar dos requerimentos no processo, antes com o nome erudito de ‘autuação’, tornou-se ‘inserção’. Considerando que as autuações traziam efeitos dolorosos, inserção bem expressa o sofrimento. A falta do senso da ironia é inata nos juízes, adquirida em casa ainda meninos – muitos são filhos de pais juízes -, desenvolvida na faculdade e aperfeiçoada no trabalho.

Juízes não podem nem sorrir. É tanta miséria e safadeza que passa por eles que não desenvolvem o senso de humor, embora você tenha me dito que isso vem dos cueiros, o juiz nasce juiz e portanto nasce sem humor. A ironia, humor refinado, está incluída na deficiência. Duvida? Veja as caras e bocas de Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello. E as sacadas pretensamente refinadas de Luís Barroso. Tive professores juízes na faculdade que quando faziam piadas a gente chorava.

Ironia faltou ao juiz Sérgio Moro ao decretar a prisão de Lula. Ele escreve que “em atenção à dignidade de ex-presidente”, Lula pode se apresentar na prisão quando quiser, não tem prazo. Orra, meu, se a dignidade do cargo é tão importante, de duas, as duas: primeiro, Moro nem deveria condenar Lula; segundo, Lula não devia ter sujado as mãos em sítios e coberturas. Se isso foi ironia de Moro, compro a edição completa da revista Cláudia, aquela com a doutora Rosângela na capa. (Saverio Marrone)

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