Caro, tô voltando de Portugal, fui conferir isso de comprar casa e ter permissão de residência, como fazem os brasileiros que têm dinheiro e uma só língua e acham que em Portugal se fala a mesma língua que no Brasil. Fiquei uma semana e levei mamãe, que está velhinha, mas aguentou o tranco. Eu bem que queria ir para a Itália, onde tenho cidadania como os filhos de Lula, e parentes em linha direta, primos, no lado da família que é comunista desde Mussolini.
Mãe só tem uma e a minha sonhava rever Portugal, de onde saiu criança para trabalhar na panificadora do tio, em São Paulo. Andava meio esquecida e isso foi minha sorte. Fomos convidados para almoçar na casa da senhora simpática, do casarão em Cascais, nós e o casal de portugueses. Casal, não, família, que tinha a cachorrinha. O marido, médico, chamava-se Doutor Coito. Coito, sim, porque os portugueses usam o ‘i’ no lugar do ‘u’ em certas palavras.
O nome real era Couto, Coito o apelativo carinhoso porque ‘couto’ por lá é mocó de bandido, daí tanto corrupto brasileiro de muda para Portugal. A mulher, senhora simpática, a cachorrinha idem, como esquecer, seu nome era o apelido de mamãe. Doutor Coito e dona Foda – quase soltei na conversa – ficaram sem graça, mas levamos numa boa. O casal Foda-Coito mais a cachorrinha com o nome de mamãe nos deram motivo para pensar na Itália. (Saverio Marrone)