ESSA BRAVA GENTE que escreve nos sites de imprensa massacra a língua portuguesa. O dicionário deles deve estar com aftas de tanto que mordem o idioma. Por sinal esse ‘deles’. Não há meio de fazer esse povo entender que deles é possessivo, algo que é de alguém: a casa dele, os carros deles. Acontece que o ‘deles’ deles é um só, vale para tudo. Por exemplo: hoje num desses uois da vida vem a notícia sobre o PM que estuprava nos dias de folga: “O fato dele atacar nos dias de folga…”.
O fato não era do PM nem dos dias de folga. O fato não era de ninguém, o fato era o fato e nada mais. Mas se quisermos dar algum sentido ao fato digamos que “o fato de ele atacar…”. Ou seja, o fato vem ligado a ‘ele’ com a preposição ‘de’. E a preposição tem que ser obrigatoriamente separada do pronome ‘ele’: de ele. Simples assim. Escrever é pensar, pensar é exercer um mínimo de lógica. Não vou me aventurar na aberração do uso de ‘o fato de’ para explicar alguma situação.
‘O fato de ele atacar’, pra quê isso? ‘Ele atacava nos dias de folga’. Basta, tanto como fato quanto como ataque – independente da vítima, a do estupro sexual e a do estupro linguístico. Esse ‘fato de’ entrou no idioma como craca de navio, não sai de jeito nenhum, nem com escova, nem com lixívia. Até advogados já usam, eles que escrevem no português de Antero de Quental.