O governo lulariano

PENSANDO aqui com meus botões. O PT quer voltar ao governo com Lula, agora nos braços do povo, longe da elite golpista. Devia fazer isso desde o começo, mas vendo que era impossível, aliou-se à tal ‘base aliada’, composta de embrulhões, picaretas e assaltantes de vários matizes. Deu no que deu: mensalão, petrolão, impiche de Dilma, condenação de Lula. Como Lula governaria, ainda que eleito, depois de policiado pela imprensa, eleitores contrários, políticos de sempre, sempre à venda?

Duas possibilidades. 1) Fazendo o que fez antes, alugando, comprando a base aliada ou entregando a ela fatias do governo e das estatais. Não funciona, o modelo está esgotado. Pior ainda, o Congresso, aquela casa de marimbondos, continuaria fazendo chantagem, criando dificuldades para vender facilidades. 2) Como governaria esse – admitamos que exista ou venha a existir – esse novo PT? Com os partidos de esquerda? Não teria maioria no Congresso. A menos que cooptasse, comprasse, alugasse as siglas. De novo, modelo esgotado, a base não aceitaria.

Resta aquilo que o discurso do PT e de seus líderes vem deixando perceber desde a condenação de Lula: o governo popular, sem atenção para os parâmetros e rituais da democracia burguesa, dos golpes parlamentares como o impiche e a condenação judicial de seu líder máximo. O sucesso e os benefícios da corrupção mantiveram o partido anestesiado contra a democracia burguesa, com a qual se aliou e da qual se beneficiou. O discurso dos líderes do PT é de ignorar e execrar a democracia formal, o estado de direito.

Qual o modelo desse possível e futuro governo petista? Da democracia popular, falsa, das multidões açuladas pelo partido. O bolivariano, do líder máximo, carismático, autossuficiente. Do partido que anula os poderes constituídos ou os açambarca com seus oligarcas, como na Venezuela. Em seguida, como nessa mesma Venezuela e na Bolívia, a reeleição interminável do chefe do governo. O país se distancia da ordem internacional, reduz o abastecimento ao mínimo, sem divisas para importar e sem produtos para exportar.

Exagero? Pode ser. Mas o discurso dos líderes do PT, de não aceitar o jogo democrático da decisão judicial, acoimando-a de preconceituosa; de ameaçar a desobediência civil para rejeitar ações de Estado; de afrontar as instituições sempre que o interesse partidário não seja satisfeito, arrogando-se uma superioridade moral que não se sustenta ao menor confronto lógico. Além da tendência, até infantil, de exigir a indulgência nacional para a impunidade dos crimes cometidos no governo.

 

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