O grelinho e a fila

Ticiane Pinheiro, paulistana, socialite e apresentadora de televisão, caiu na Síndrome Donata Meirelles: postou no Instagram a foto da fila em que estava em aeroporto do Rio. Não fosse o comentário – “aeroporto virou rodoviária” – o caso passaria batido. Comparar aeroporto com rodoviário foi visto como politicamente incorreto, ofende os brios das classes que viajam de avião, que desprezam ônibus e as respectivas rodoviárias.

O post de Ticiane não menospreza as rodoviárias, mas os aeroportos. Sim, porque excluindo as vésperas de feriadões, as rodoviárias são mais calmas. Viajar de Curitiba para São Paulo, por exemplo, é mais tranquilo de ônibus que de avião. A rodoviária, sem dúvida, não tem ar condicionado, nela só há uma escada rolante, mas não precisamos caminhar dois quilômetros para chegar à sala de embarque, como no aeroporto.

Há preconceito contra as filas dos aeroportos? Um ranço coxinha contra os viajantes mortadelas, porque foi a partir dos governos petistas que os pobres passaram a viajar de avião? Não exatamente os pobres no sentido econômico e social do termo. Na visão de Ticiane seriam os pobres de espírito, gente sem classe, que vai de chinelão e travesseiro para o avião, que esbarra na nossa cara os mochilões nos corredores apertados.

Aqui se abusou do politicamente correto. Ticiane não podia evitar, vive um reality show desde quando foi a senhora Roberto Justus. Ela fascina pelo candor, pela ingenuidade. Uma vez entrevistava Geyse Arruda, que fizera plástica íntima porque se inibia com a própria genitália, “parece uma couve-flor”, dizia. Ticiane quis esclarecer e pergunta para Geyse: “Foi no grelinho, né?” O Insulto fecha com Ticiane e não abre.

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