Sênior na camiseta

NEYMAR JR. O nome onipresente na camiseta e no noticiário. Por que o júnior? Porque tem o sênior, o pai do moço. O pai do moço tem mérito: fez o moço, instilou nele o gosto pelo futebol e fechou os melhores contratos. Mas tirando isso nunca fez fama como desportista ou como agente esportivo. O mérito não vai além disso, porque o resto foi construído pelo júnior, no talento inato, na genialidade incontestável. Gratidão do filho ou temor reverencial, de o sênior exigir o júnior?

Bonito honrar pai e mãe, assim exige a melhor lei da tábua dos mandamento. Acontece que Neymar não honra a mãe do mesmo jeito: ela está no batismo do iate e na tatuagem no corpo. Meter júnior no nome do filho é intromissão na vida, autônoma e independente do filho.

Até hoje agradeço minha mãe pelo nome que escolheu. Dependendo de meu pai eu seria júnior, Marciano Júnior. Já é difícil carregar o sobrenome, tanto que tenho que meter um inexistente acento de proparoxítono para que os paranaenses, inflados de polaquismo, não avancem a sílaba tônica e despachem meus penates para a Polônia: ‘Distefâno’, como ouço todos os dias. Carregar aquele Marciano, nem em disco voador…

Neymar tem direito de ser só Neymar. O pai dele, se quiser, que use uma camiseta com os dizeres ‘Neymar Sênior’. Afinal, sua notoriedade e as belas mulheres que namora vêm na conta da fama do filho. Nisso de filhos e pais, o guia é o libanês Khalil Gibran (1883-1931), no poema ‘O profeta’, tradução de Mansour Chalita:

Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.”

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