ASSESSOR DISTANTE, terceiro escalão, o governador não tinha contato com ele. Parece conversa de Donald Trump, mas não é. Vem da nota do Palácio Iguaçu lavando as mãos sobre o jornalista Carlos Nasser, exonerado depois da intervenção do MP e da PF na Casa Civil envolvendo negócios escusos sobre pedágios. Nasser é inocente até prova em contrário, isso é da lei, regra sagrada. Mas quem afirma que ele era “distante”, “sem contato com o governador”, não se beneficia da presunção de inocência. Muito ao contrário, o governador Beto Richa acaba de servir, com tempero requintado, um prato fumegante e apetitoso para o senador Roberto Requião, esse gourmet do escândalo político.
Carlos Nasser é tudo menos pessoa de “terceiro escalão”, “distante do governador”. Ele jamais esteve distante do poder nos últimos quarenta anos. Desde Aníbal Khury que no seu mandarinato de décadas tinha nele um valioso colaborador. Os governadores, igual: foi chefe do escritório do Paraná no Rio de Janeiro por muitos anos. Lá, como cá, nunca invisível. Se aqui era íntimo dos poderes, no Rio era íntimo de políticos, artistas e intelectuais – Millôr, Paulo Francis, Ziraldo, seus amigos íntimos. Para falar de flores, namorou mulheres antológicas. Nasser sempre foi ecumênico: serviu até a Roberto Requião, contratando e pagando-lhe advogado quando uma das eleições do atual senador foi posta em risco na Justiça.
Um homem desses não entra na Casa Civil pela porta dos fundos, pega a mesa no canto do corredor e se esconde no banheiro quando o governador chega em palácio. Algo me diz que Beto Richa menino sentou no colo de Carlos Nasser, amigo de seu pai, o velho José Richa, ambos parceiros de Aníbal Khury. A justificativa-desculpa do Iguaçu é auto-condenatória, pois requenta a desculpa batida, esgotada e de pé quebrado, melhor, a Síndrome do Primo Distante. Lembram? O onipresente Luiz Abi Antoun, quando pego em falseta que comprometia o Iguaçu e seu titular, sofreu um downgrading e passou de primo-irmão a primo-distante, algo assim como décimo-oitavo grau.
Agora, com Carlos Nasser, o mesmo discurso, a mesma falta de imaginação, a velha peneira tapando o sol cegante. Seria mais fácil e digno dizer, ao exonerá-lo, que ele violou a confiança do governo, quebrou o dever de probidade, coisas do gênero. Mas isso exige autoridade moral, distanciamento pessoal, rigor na gestão pública, imenso e ciclópico desprendimento de espírito. O governador Beto Richa nos deve tal postura desde que, prefeito eleito, prometeu não renunciar; desde que na reeleição jurou que o Paraná estava nadando em dinheiro; desde que não se desvencilhou de Ezequias Moreira – ao contrário, promoveu-o e deu-lhe o foro privilegiado que levou à prescrição da pena de peculato.