Caro, essa história do dia das mães… Não me passa até hoje, mesmo tendo contribuído para a data com filhos e netos. Recalque meu, perdi a mãe cedo e passei por poucas e péssimas sem ela, desde sempre meu lume e meu guia. Dei minha volta por cima e carrego as cicatrizes na alma, aleijado, capenga no afeto. Prefiro o refúgio da crítica, como assistir a enxurrada de filhos e netos indo almoçar com a matriarca, alguns trazendo comida, outros fazendo a coitada cozinhar.
Tem os que levam a mãe ao restaurante, com o chato do pai não raro meio mamado. Horas de espera, comida fria, intoxicação previsível. Pelo menos a coitada foi poupada de cozinhar e lavar a louça. Em descompensação finge tolerar a nora que detesta e o genro que despreza. Acontece nas famílias normais, ditas felizes. Disse que preferi o refúgio da crítica. Aquilo de data comercial, hipocrisia, o de sempre para todos os dias comemorativos, incluído o dos pais.
Comecei a odiar o dia ainda na escola, quando as professoras punham os órfãos de mãe em fila separada, fitinha de cor diferente na lapela, igual a essas de apoio à AIDS e ao PT. Ficava docemente constrangido, sorvendo o olhar de piedade das mães presentes, às vezes um convite para o almoço, o sal grosso sobre a ferida aberta.
Hoje fico naquela da vírgula: “Mãe só tem uma”, não há quem substitua, o meu credo. A outra: “Mãe, só tem uma”, a redação picante de Joãozinho sobre a mãe que, na cama com o namorado, pede-lhe duas cervejas da geladeira. O filho só encontra uma, a vírgula faz a diferença, na sede e na mãe. Vírgula, não vírgula, cerveja, não cerveja, namorado, não namorado, “mãe só tem uma”. A regra delas, o amor incondicional; falta e indiferença, a exceção. Joãozinho, puro ou pícaro, adora a mãe. (Saverio Marrone)