Depois do golpe do Rolex saudita, a mira assesta em Lula sobre caso antigo, o relógio Cartier que recebeu de presente quando ainda presidente. Não há o que comparar entre o relógio que Bolsonaro vendeu por uma fortuna – e recomprou, prova de culpa – em Miami e o de Lula, signo de sucesso de classe média remediada e arrivista. Mas lege habemus, há um limite de valor para definir se o presente recebido pelo ocupante de cargo público vai para seu patrimônio privado ou para o patrimônio público. Ainda que a ação oficial seja oportunista, porque atrasada, ela é saudável, pois mira a doce e suspeita aceitação de presentes que, pelo valor, dizem mais sobre o interesse de quem dá que mérito de quem recebe.
O que falta é a ação presente e incontinenti dos tribunais de contas e ministérios públicos. O hoje deputado Beto Richa, ao ser levado ao purgatório quando governador, teve apreendida pelo Gaeco sua coleção de cebolões yuppies. Embora coincidente com a investigação do relógio de Lula, a desistência de Beto à candidatura de prefeito, nada tem a ver com seus relógios, restituídos e legitimados pela Justiça. O ex-governador desistiu devido à desafeição de quem oferece bens materiais ao homem público: o curitibano, esse ingrato, rejeitou o ex-prefeito e governador nas pesquisas para a eleição municipal. Mas ao que consta, Beto continua ostentando seus cebolões, não aprendeu com o quase aliado Bolsonaro a usar o confiável Swatch paraguaio.