Tem diferença?

CARO, ando atirado, exibido, falando pelos cotovelos. Quem nasce em Maringá tem complexo de Ricardo Barros, acha que pode tudo. Lembrei do professor de latim que dizia que a sorte ajuda os caras de pau. Fiz uma dessas com a Carla, já te falei dela: 1,75 de beleza e formosura, pele de jambo claro, tudo em rigoroso lugar e perfeita proporção, o mais destilado melting pot de nossa raça, cabelos negros “como a asa da graúna”. “A sacerdotisa do efêmero … surge, não chega; parte, não vai”. Onde? No Babilônia do Muller, cinco dias por semana.

Quase esqueço: sapato número 40 e cabelos curtos, corte assimétrico, certo desacordo com luzes e reflexos. Tem homem que desdenha mulher de pés grandes. Pobres de espírito, não conheceram Audrey Hepburn, escarpãs 41 do Ferragamo. Carla tinha um problema, toda mulher tem o seu: entrava muda e saía calada. Circulava com os olhos fixos no ponto do infinito em que dominava o ambiente com visão lateral. Não admitia a existência dos mortais em geral e deste em particular. Assim por um mês, dois, três. No segundo trimestre baixou o galã de Maringá.

Assumi um Ricardo Barros encarando José Richa: vim, vi, saudei. Não venci, como César, mas larguei o verbo: ‘Me diga uma coisa, você é tímida, reprimida ou apenas curitibana?’ Não teve tabefe e olhar atravessado naquele misto de desprezo e passa-fora.  A resposta ainda ecoa e reboa em meu coração: “Tem alguma diferença?” O que era promessa de paixão converte-se em admiração e saudade. Porque semana seguinte, sem bom dia, tchau ou adeus, Carla sumiu, os olhos fixos naquele ponto do infinito, sempre a torturar a imaginação dos homens. (Saverio Marrone)

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