Très pet, aucune merde

AINDA bem que a França não tem mais daqueles jornalistas maliciosos que entrevistaram Carlos Lacerda depois do Golpe de 1964. Líder civil, Lacerda viajou à França em esforço de relações públicas para defender o Golpe. Fluente em francês, enfrentou o jornalista irônico que lhe perguntava: “Vocês chamam de revolução. Que revolução é essa em que não corre sangue?” Lacerda respondeu com a ironia do machista pré-histórico: “No Brasil as revoluções são como a noite de núpcias na França: em nenhuma delas corre sangue”.

Os militares da época consideraram a resposta de Lacerda um achado. Ele se considerou o herdeiro natural da ditadura, contra a qual conspirou e que acabou por eliminá-lo da vida pública (John Foster Dulles, seu biógrafo e amigo, conta da armadilha que teria sido armada pelo general Golbery do Couto e Silva, diretor do SNI, ao plantar um espião bonitão como jardineiro, para ser assediado por um Lacerda bissexual em sua chácara).

Agora talvez novamente passemos por isso, com personagens invertidos: o golpe de Jair Bolsonaro não verteu sangue, limitou-se a quebrar cadeiras, um relógio de quatrocentos anos e usar salões palacianos como privadas. Na França, como explicaria um Lacerda atual, como o publicitário Fábio Wajngarten, hoje advogado de Jair Bolsonaro? Sugestão: “o golpe foi como a prisão de ventre na França; très pet et aucune merde, muito peido e nenhuma bosta”.

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