STEPHEN HAWKING, o físico inglês que morreu ontem, é um desses homens que fizeram diferença para a humanidade. Eu o colocaria no nível de Arquimedes, Copérnico, Giordano Bruno, Newton, Einstein e Freud. Cada um deles trouxe contribuições que iluminaram a ciência e o mundo. Cada um de nós tem o seu dedo de gratidão, em maior ou menor medida, para com todos ou para com um deles.
Arquimedes, por todos, me toca como exemplo acabado da estupidez: morreu com estocada de lança quando, distraído a rabiscar equação na areia, não atendeu à ordem de soldado do exército invasor de sua cidade. A sublimidade do pensamento esmagada pela selvageria. Tem um, não incluído acima, porque muito particular, Bertrand Russell, a quem devo o aprendizado do pensamento crítico.
Nada sei da física de Hawking, não consegui chegar ao fim de sua “Breve história do tempo”. Mas uma frase sua removeu-me a angústia metafísica de homem descrente: o Universo, sua origem e finitude. O Universo como origem do ser. Hawking disse uma vez, de passagem, que essa é uma falsa questão, desnecessário ocupar-se dela. Para ele o Universo sempre existiu e sempre existirá.
Para mim foi como remover a pedrinha incômoda no sapato. Hawking removeu-me a pedrinha incômoda no espírito, ali introduzida pela tradição pré e pós-socrática do pensamento ocidental, no qual fomos educados, de que tudo depende de uma causa que produz consequências. Não sei a extensão pretendida por Hawking nessa frase. Pouco importa. Os gênios nos conduzem muito além de seu pensamento.