A vênus do Jaburu

Aconteceu em 1347 na Inglaterra. O rei Eduardo III dançava no baile da corte, nos braços a condessa de Salisbury, sua amante. A certa altura cai a liga que prendia a meia da condessa. O rei se abaixa para recolher o atavio e o reinstala na perna da condessa. Os nobres fazem olhares maliciosos.

O rei rebate em francês, língua oficial desde a conquista normanda no século 11: honni soit qui mal y pense, maldito seja quem fizer mau juízo. A frase tornou-se o dístico, lema da Ordem da Jarreteira, comenda inglesa. Jarreteira era a liga da condessa. Sim, moralistas, a cinta-liga tem História.

O Brasil viveu semana passada esse momento único, da etérea, esquiva e preservada primeira dama, Marcela Temer – bela, recatada e do lar, conforme o currículo divulgado pelo marido. Marcela caiu na água do lago do Palácio do Jaburu para salvar o cachorrinho do filho.

A belíssima primeira dama molhou-se toda, vítima da omissão da agente de segurança que considerou desvio de finalidade atender o cachorro e não a primeira família. Não há, até que o hacker apareça, registro oficial de Marcela a mergulhar e sair do lago, o cachorrinho nos braços.

A imprensa narrou a história. Ninguém sugeriu a cena da bela Marcela, mulher de estonteante beleza, emergindo do lago qual Vênus de Botticelli, a roupa molhada, colada ao corpo, detalhando-lhe as formas esculturais. Pois a imagem não me sai da cabeça. Honni soit que mal mi pense.

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