MORAM no mesmo prédio; chamá-las vizinhas só em sentido lato, pois vinte e cinco anos de vida e quinze andares as separam; o convívio limita-se ao bom dia protocolar de elevador, costume recente trazido pela migração nortista. Têm de comum o chamar-se Teresa e ser namoradeiras, não dessas tipo Anitta, do tico-tico-no-fubá, mas as do Poetinha, dos amores infinitos enquanto durem.
Enquanto o amor de Teresa jovem fumega, o da outra arde com as labaredas de seu fogacho invertido, a dispensar aquecimento na face sul do inverno curitibano. Teresa madura quase perdeu seu amor pela desatenção, não dela, sim dos porteiros que confundiram as caixas de correspondência. Aquele cartão postal libidinoso para Teresa jovem caiu nas mãos do fogoso e provecto namorado da outra Teresa.
Ofuscado pela libido pujante e renascida, o abelhudo cupido cúpido foi direto ao texto, ignorando sobrescrito, autor e assinatura. Gritaria e ofensas de acordar vizinhos e exigir presença do síndico, a coisa terminou em chamego e biquinho dos amantes, ela assegurada do amor, ele indignado porque dela nunca recebera o que a outra Teresa obsequiava.
O assunto chegou ao conselho do condomínio, que encerrou o caso com multa por violação de correspondência.