SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA é de matar – ia dizendo: é de f*der, respeitada a amplitude semântica do vocábulo. Tenho parceiro – ia dizendo: parceira, para ser preciso. Minha parceira também sofre da síndrome, o que falta para ela também falta para mim. Resolve fácil, dirão os apressados e apressadas, que se saciam rapidinho. A abstinência da minha parceira alimenta a minha abstinência. Preciso dela para me satisfazer. E aqui a coisa complica: tenho quase certeza que minha parceira não resolveria sua abstinência comigo, ou seja, no modo como eu saciaria minha abstinência. Sou demorado, extenso nas palavras, gestos e imagens; ela faz tudo de um jato, entre o histérico e o muito atrapalhado.
Nunca falamos sobre isso, nem sei se um dia falaremos sobre isso. Só sei que não acabaríamos bem. Ela me diria poucas e boas. Eu lhe diria muitas e excelentes. Mas ela me sacia do jeito que é, como é, pelo que é. Sua dela ausência é a causa de minha abstinência, para continuar no óbvio. Não sei o que acontece, o porquê da abstinência dela. Detestaria que ela dissesse, “culpa sua”. Essa é minha única certeza, que ela jamais dirá que sou culpado pela sua dela abstinência. “Bora, não enche o saco”, ela diria. Coleciono seus retratos, suas fotos, e como dói! Volta Gleisi, retorna ao aconchego das suas bobagens e minha acidez. Ponhamos fim às nossas abstinências. Ainda que no modo solitário, você lá, eu cá.