Sub-rogação generacional

NÃO FOI choque ler a notícia do site brasileiro: a atriz Cameron Diaz pensa em fazer sua segunda “sub-rogação generacional”. Não foi choque porque brasileiro adora sacar o pomposo para descrever o trivial ou fazer do simples um mistério cabalístico. A sub-rogação generacional é nossa velha conhecida barriga-de-aluguel, o contrato de gravidez pelo qual uma mulher recebe óvulos fertilizados de outra para dar à luz o filho desta.

Mãe, como dizia o presidente-marechal Dutra, só tem uma, a dona dos óvulos. A outra, trabalhadora autônoma, pode ganhar a vida parindo filhos alheios ou resolver sua vida parindo um só, de alguém rico, como as que pariram os filhos do cantor Michael Jackson. A lei brasileira não permite a barriga de aluguel – ao contrário de Portugal, que autoriza no caso excepcional da mulher que não tem ou perdeu o útero.

O Brasil permite a adoção de brasileiros. Mas esta é tão complicada que os interessados acabam por importar filhos da África. Talvez um misto de catolicismo e desconfiança sobre os adotantes deve ter orientado tamanho rigor: o novo pai pode vender a criança ou submetê-la a trabalhos forçados.  A sub-rogação não é nem original, mas tradução mal feita de surrogate mother, a gravidez por substituição, dos EUA.

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